Wellington Borges: A Voz da Folia e do Congado em Leandro Ferreira
- 18/12/2024
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No site da Rádio Unidos pela Tradição, que exalta a cultura sertaneja e as raízes do interior brasileiro, trazemos hoje a história inspiradora de Wellington Borges de Louredo. Embaixador da Folia de Reis Filhos do Reis e da Congada Filhos do Reis, Wellington é um dos maiores responsáveis pelo fortalecimento das tradições culturais em Leandro Ferreira, cidade reconhecida por sua fé e devoção ao Beato Padre Libério.
Desde sua chegada ao município, em 2016, Wellington se dedicou a resgatar e transmitir às novas gerações a essência da Folia de Reis e do Congado, honrando o legado de sua família. Nesta entrevista exclusiva à Rádio Unidos pela Tradição, ele compartilha sua jornada de devoção, desafios na preservação das tradições e sua visão sobre o futuro dessas manifestações culturais.
Entrevista
Rádio Unidos pela Tradição: Wellington, como você descreveria a cidade de Leandro Ferreira e sua relação com a cultura local?
Wellington Borges: Leandro Ferreira é uma cidade de turismo religioso, muito conhecida pela devoção ao Beato Padre Libério, que está a caminho de ser canonizado como santo brasileiro. Temos grandes tradições como a caminhada e a cavalgada em homenagem ao Padre Libério, além da festa do Congado, que é uma das melhores da região.
Quando cheguei aqui em 2016, percebi que a Folia de Reis estava sendo deixada de lado, com apenas um grupo atuando, formado por pessoas mais velhas. Por outro lado, o Congado e o Padre Libério eram os grandes destaques culturais. Foi então que decidi criar um grupo de Folia para envolver os jovens e revitalizar essa tradição. Hoje, após sete anos, estamos colhendo frutos desse trabalho de preservação e transmissão cultural.
Rádio Unidos pela Tradição: Quando começou sua história com a Folia de Reis?
Wellington Borges: Minha trajetória começou antes mesmo de eu nascer. Meu pai era embaixador da Folia de Reis e capitão do Congado. Minha mãe confeccionava bandeiras e enfeitava roupas para a Folia. Quando nasci, eu era muito doente, e meu pai fez uma promessa a Santos Reis e Nossa Senhora para que me dessem saúde. Em troca, ele me ensinaria tudo sobre a Folia e o Congado.
Um dos momentos mais marcantes foi aos 5 anos, quando acompanhei a Folia do meu pai vestido de Anjo Gabriel. Era emocionante ver os Três Reis, o alferes com a bandeira e os soldados de Herodes em ação. Aquilo me marcou profundamente e despertou minha paixão por essa tradição.
Rádio Unidos pela Tradição: O que te motivou a seguir na Folia de Reis e no Congado?
Wellington Borges: Minha maior motivação foi honrar a memória do meu pai, que foi meu maior exemplo. Ele sempre me ensinou com muito amor e dedicação. Lembro de um momento muito especial, na semana da sua morte. Ele me disse: "Você é o único dos meus filhos que herdou essa paixão, e se continuar, estará em boas mãos." Essas palavras me guiaram desde então.
Também tive a felicidade de aprender com José Francisco, conhecido como José Chiquinho, que me ensinou a história do Congado, enquanto meu pai me ensinava a musicalidade. Esses dois pilares foram fundamentais para que eu continuasse a tradição.
Rádio Unidos pela Tradição: Como surgiu a Folia de Reis Filhos do Reis?
Wellington Borges: Criei o grupo com o objetivo de ensinar os jovens não apenas a cantar ou tocar, mas a entender a verdadeira essência bíblica da Folia de Reis. Mostro a importância de respeitar a farda, de conhecer o contexto histórico e de se afastar de práticas como o consumo de álcool, que infelizmente estavam associadas a essa tradição.
Minha Folia é formada principalmente por jovens, com idades entre 6 e 18 anos. Também há pessoas mais velhas, mas meu foco sempre foi nos jovens, para garantir que a tradição continue. Costumo dizer a eles que a Folia é deles, não minha. É nosso dever passar o legado adiante.
Rádio Unidos pela Tradição: Qual é a relação entre a Folia de Reis e o Congado em sua história?
Wellington Borges: Para mim, foi uma transição natural, já que meu pai também era capitão de Congado. Na nossa região, é muito comum que o folião seja congadeiro e vice-versa. Essas culturas se complementam, pois tanto a Folia quanto o Congado têm raízes na história dos negros em Minas Gerais.
O mesmo povo que era congadeiro também se tornou folião, unindo essas tradições para fortalecer sua identidade e fé. Esse vínculo histórico é muito importante para mim, e busco manter as duas tradições vivas com o mesmo respeito e dedicação.
Rádio Unidos pela Tradição: Quais são os maiores desafios e as maiores alegrias na liderança desses movimentos?
Wellington Borges: O maior desafio é evoluir sem perder a essência da tradição. Muitos embaixadores e capitães têm receio de mudanças, mas é necessário adaptar as práticas para envolver os jovens e garantir que a cultura não desapareça.
A maior alegria, sem dúvida, é ver os jovens fazendo tudo com amor e dedicação. É como se fossem todos meus filhos. Quando vejo crianças e adolescentes cantando, tocando e entendendo o valor da tradição, sinto que o esforço valeu a pena.
Rádio Unidos pela Tradição: Qual mensagem você gostaria de deixar aos ouvintes da Rádio Unidos pela Tradição?
Wellington Borges: Aos embaixadores e líderes de Folia, eu digo: compartilhem o que sabem. Não tenham ciúmes do conhecimento, porque todos nós começamos errando. Ensinar é essencial para que a tradição continue.
Aos devotos, peço que não deixem a Folia de Reis e o Congado desaparecerem. Vejo muitas pessoas abraçando tradições estrangeiras, como o Halloween, mas esquecendo de valorizar nossas próprias raízes culturais.
Por fim, lembrem-se de que antes de Cristo morrer por nós, Ele nasceu. E quando nasceu, foi adorado pelos Reis Magos. Essa adoração nos ensina sobre fé e amor. Vamos manter vivas essas tradições que nos foram passadas com tanto esforço e dedicação.
Viva Nossa Senhora do Rosário, viva nossos ancestrais do Congado, viva a Folia de Reis, e viva os que já foram, os que estão e os que virão. Muito obrigado!
Por Douglas oliveira